27 de maio de 2017

Mat Maneri/Evan Parker/Lucian Ban “Sounding Tears” (Clean Feed, 2017) & Tony Malaby/Mat Maneri/Daniel Levin “New Artifacts” (Clean Feed, 2017)



Tem-se revelado um dos mais complexos, completos e controversos instrumentistas deste milénio. E, sim, continua a fazer em palco aquilo que outros fazem deitados num divã, à cata de ligações entre introversão e extroversão, ora reagindo à forma em que se manifestam em si ações alheias, ora medindo o impacto dos seus feitos no mundo exterior. Isto, sem dar a entender que as qualidades são mutuamente exclusivas. E é esta multiplicidade de faces que, mais uma vez, Mat Maneri revela num par de deslumbrantes discos que parecem formados por processos orgânicos tão inevitáveis quão inescrutáveis. Ou seja, nestas expandidas versões de dois duos – com o pianista Lucian Ban editou o etéreo “Transylvanian Concert” e com o violoncelista Daniel Levin o denso “The Transcendent Function” – encontra-se o paradigma da individualidade, claro, mas também o da adaptabilidade. Aliás, preste-se atenção ao que num e noutro registo faz com a sua violeta que não deixará de impressionar pelo muito de Ban, de Parker, Levin e Malaby que deixa transparecer no seu particular idioma – e o comportamento dos dois saxofonistas é bem mais que pivotante. Isto é, ainda que permaneça instantaneamente reconhecível como intérprete, Maneri abdica da rigidez. Nessa medida, e pese embora as enormes diferenças entre os trios – o de “Sounding Tears” está para a noite como o de “New Artifacts” está para o dia –, voltar-se-á a ideias postuladas por alturas de “Three Men Walking”, o CD inspirado por aquela escultura de Giacometti em que cada figura segue numa direção diferente sem deixar de partilhar o espaço das outras.

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