11 de fevereiro de 2012

“Bollywood Bloodbath” (Finders Keepers, 2011)

Com honrosas excepções, nomeadamente pela inclusão de um primitivo ensaio extraído de “Mahal” (o clássico de 49 assombrado por dementes cânticos criados por Khemchand Prakash), o essencial da acção desta sugestiva antologia desenrola-se na primeira metade dos anos 80, quando, por clubes de vídeo do mundo inteiro, a prateleira de cima nas estantes consagradas a filmes de terror estava devotada a títulos como “Sexta-Feira 13”, “Shining”, “A Noite dos Mortos-Vivos”, “Um Lobisomem Americano em Londres”, “Poltergeist” ou às sequelas de “Halloween”. No entanto, estabelecido o maculado pano de fundo, e porque é de Bollywood que se trata, só compreenderá efectivamente ao que vem quem tiver em mente o vídeo que em 83 John Landis realizou para ‘Thriller’, de Michael Jackson. Porque numa produção cinematográfica profundamente antropofágica, a contingência de se dar pelo mais popular cantor do planeta a liderar uma parada de zombies numa curta-metragem eminentemente bollywoodesca legitimaria uma hemorrágica avalanche de obras que infinita e insaciavelmente lhe reciclariam os procedimentos. Os irmãos Ramsay, por exemplo, aqui representados com uma dezena de filmes, de uma épica tentativa de exorcizar um teriantropo espírito com reincarnação garantida à grotesca ressurreição de um cemitério inteiro, conduziram fórmulas semelhantes à exaustão. Mas a música, essa, provou-se de inesgotável criatividade e insuperável radicalismo. Bappi Lahiri, Rajesh Roshan ou Sapan-Jagmohan, aproveitando a relativa licenciosidade do género, empregaram-lhe nas bandas-sonoras linhas de baixo plasmáticas, sintetizadores espectrais, vocais possuídos, sequenciadores mutantes, percussão paranóica e um sádico arsenal de efeitos prontos a deixar sangue na bola de espelhos e a criar um pesadelo que nem sempre encontra equivalente no ecrã.

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