21 de janeiro de 2017

Anthony Braxton – Miya Masaoka “Duo (DCWM) 2013” (Rogue Art, 2016)



Teve um final de ano particularmente agitado no que diz respeito à edição de discos, Miya Masaoka, com a Innova a lançar o seu “Triangle of Resistance” no exato momento em que este “Duo” surgia nos escaparates e com Ingrid Laubrock a recrutá-la para o estelar “Serpentines” (Intakt). Dir-se-ia uma forma de ir deixando um cartão-de-visita aqui, outro acolá, e de facultar o acesso a uma produção marcada por um conjunto de variáveis perfeitamente inusitado, de atuações interativas com três mil abelhas, filodendros e baratas a composições como “While I Was Walking, I Heard a Sound…”, para três coros, “For Birds, Planes & Cello”, exatamente o que o título diz, e “What is the Sound of Naked Men?”, que transformava o palco numa sala de urgências, com a monitorização eletrocardiográfica e eletroencefalográfica dos intérpretes reprocessada em tempo real e reconvertida em estímulos audiovisuais. Ou seja, não é estranha àquilo que Anthony Braxton costuma referir: “Temos de pensar nestas coisas em termos de escala. E trabalhar em planos pequenos, médios, grandes… E absolutamente ridículos!”, conforme lembra Taylor Ho Bynum no último número da publicação “Sound American”, inteiramente consagrado ao seu antigo professor. Nessa perspetiva, convirá recordar que 2016 foi também o ano em que Braxton viu chegar ao mercado mais uma instalação do seu ciclo operático “Trillium”, um colosso multimédia que envolve cerca de 60 vocalistas e instrumentistas. Talvez, então, por questões de escala, prende a atenção a dimensão virtualmente intimista desta colaboração sujeita aos desígnios da Diamond Curtain Wall Music, o sistema em que Braxton cruza improvisação intuitiva com nebulosas criadas através do software de programação SuperCollider. Não só pelos diálogos que se estabelecem entre o koto de 21 cordas dela e os saxofones dele, mas sobretudo pela forma quase ambiental em que documenta fenómenos acústicos e eletrónicos em reação permanente uns aos outros. O resultado é visceral e fascinante.

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