15 de abril de 2017

Enrico Pieranunzi Quartet “New Spring: Live at the Village Vanguard” (CAM Jazz, 2017)


Trata-se de uma formação recente, esta, que Enrico Pieranunzi reuniu para nova ida ao Village Vanguard (na primavera de 2015, quando se assinalava o octogésimo aniversário da sala), com Donny McCaslin no saxofone tenor, Scott Colley ao contrabaixo e Clarence Penn à bateria. Nomes que, neste contexto, mais não fazem que apelar à conformidade da ideia com o objeto, produzindo uma música de arquitetura definida mas nada definitiva, de estilo elevado e evadido, obsequioso e obstinado, um estudo contínuo de sensibilidade ao contraste conduzido por um pianista imune ao preconceito. Claro que atrelados a estes instrumentistas vêm quase vinte anos de caminhos entrecruzados: desde 2000 que Colley grava com McCaslin, tendo estado ao lado de Penn em “Les Fleurs Bleues”, de Stefano Bollani, em 2001, ou em “Art of the Invisible”, de Adam Rogers, em 2002; sendo que no ano seguinte se encontraram os três debruçados sobre o cancioneiro brasileiro, em “North and South”, de Luciana Souza, e que, claro, desde meados da década passada que McCaslin e Penn integram agrupamentos liderados por Dave Douglas e Maria Schneider; mas é possível que Pieranunzi dê mais importância ao facto de todos terem acompanhado cantores e cantoras ao longo das respetivas carreiras. 

Isto, porque – e mais do que por qualquer outra razão, dir-se-ia – o italiano se interessa pelo espaço de intimidade e entendimento que, para si, o jazz tão bem promove e reclama. Talvez por isso, numa entrevista de 2011, tenha declarado à revista “The New York City Jazz Record” que “entre todas, o jazz é a música mais humana”, e que foi quando aprendeu com Chet Baker a “deixar o piano cantar” que começou a conseguir expressar-se de “forma mais eloquente”. É uma qualidade eminentemente plástica que aplica a materiais mais ou menos amadurecidos: ‘Amsterdam Avenue’ e ‘New Spring’ são inéditos, ‘Permutation’ ou ‘Loveward’ nem tanto. Daí que, quando escreve acerca do Vanguard, dizendo que é “um clube que não envelhece”, não fosse a sua notória incapacidade de recorrer ao artifício e seria da sua eternidade que poderia estar a falar.

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