24 de junho de 2017

“Skatalites: Original Ska Sounds From The Skatalites 1963-65” (Soul Jazz, 2017)


No início da década de 60, em Kingston, numa carta dirigida ao “Daily Gleaner”, William Stanley Moss – veterano de guerra, venerado autor e viajante inveterado – não fazia por esconder a sua indignação: “Ainda há pouco tempo atrás, claro, sob orientação de Billy Cooke, um seleto grupo [de instrumentistas] atuava diariamente no agora defunto The End, mas cada qual foi para seu lado quando o clube fechou. Alguns, como o próprio Billy, formaram pequenos combos; outros, como Tommy McCook ou Ernie Ranglin, lamentavelmente, venderam-se ao ska.” Como se sabe, Moss tinha o jazz entranhado no corpo. E é possível que, de modo algo perverso, após uma vida incorporado em regimentos, entendesse essa súbita tentativa de tirar proveito de um estilo autóctone por músicos tão cosmopolitas como uma deserção. Afinal, Cooke, McCook, Ranglin e demais companheiros de workshop (denominação apócrifa, por alturas da edição de “Jazz Jamaica”), como Don Drummond ou Roland Alphonso, alguns deles colegas de carteira nas aulas de educação musical da Alpha Boys School ou saídos das fileiras da orquestra de Eric Deans, poderiam vir a constituir a próxima fornada de talento jamaicano em busca de consagração internacional no mundo do jazz, na senda de Dizzy Reece, Joe Harriott e Harold McNair. Como é óbvio, McCook, Drummond e Alphonso, com Lester Sterling, Johnny “Dizzy” Moore, Jackie Mittoo, “Jah Jerry” Haynes, Lloyd Brevett e Lloyd Knibb, alinhados nos Skatalites, foram muito mais longe do que isso sem sequer precisarem de sair de casa, quando a peculiar síncope coletivamente desenvolvida em centenas de gravações ao longo de pouco mais de um ano se veio a provar um embrião para êxitos à escala planetária (de ‘Louie Louie’ a ‘Ob-La-Di, Ob-La-Da’). “O que dirá a expressão skatalite ao comum dos jamaicanos daqui a uns anos?”, interrogava-se Moss. Embora não o pudesse saber, não muito menos que a palavra autonomia. É o que a atual formação do grupo virá lembrar dia 1 de julho ao festival Musa Cascais.

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