4 de abril de 2015

Matthew Shipp Trio "To Duke" (Rogue Art, 2015) & Darius Jones & Matthew Shipp "Cosmic Lieder: The Darkseid Recital" (Aum Fidelity, 2014)



 Abriu e fechou atividade por mais de uma vez e ainda há pouco dizia estar a preparar-se para deixar de gravar. No entanto continuam a sair discos seus. Nenhum tão irónico quanto “Greatest Hits”, apesar de possuírem muitos a autorreferencialidade que vive no humor: em 2014 lançou “I’ve Been to Many Places” e logo se pensava em ‘Places I’ve Never Been’, um tema seu de 2003. Mas ocasionalmente Matthew Shipp é mais programático: nisso era exemplar “Un Piano”, de 2008, cujo significado do título se disputava consoante o idioma em que se presumisse estar escrito. Na mesma editora surge este CD dedicado a Duke Ellington em que se vislumbram paradoxos semelhantes. Um deles terá a ver com a frase “entre o páthos e o jingle”, a que Steve Dalachinsky recorre nas notas em que o apresenta. Ou melhor, essa caracterização traz outra à memória: “Há alturas em que uma imagética musical se torna patológica”, escreveu Oliver Sacks sobre melodias – essencialmente publicitárias – que não nos saem da cabeça. E é assim que Shipp aqui visita ‘In a Sentimental Mood’ ou ‘Take the A Train’, identificando, deslocando e empurrando os seus mais distintos constituintes até ao precipício da insanidade. De igual modo se escuta o prolongamento da aventura com Darius Jones: música que se cura com a própria música.

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