13 de fevereiro de 2016

Michael Formanek – Ensemble Kolossus “The Distance” (ECM, 2016)



De certa forma, este “The Distance” sugere um olhar atualizado sobre “Nature of the Beast” (Enja, 1997). Ou, melhor, tratar-se-á de mais um caso em que se atribui a material antigo o dom da profecia. É que, já aí, nomeadamente em ‘Thick Skin / Dangerous Crustaceans’, quando Tim Berne, Tony Malaby e Chris Speed se juntavam a Formanek, Jim Black, Steve Swell e Dave Douglas, se diria lançada a semente para o eloquente exercício de escrita que agora se concretiza. Claro que, entre um e outro momento, se dá um hiato na expressão mais visível da atividade do contrabaixista e compositor que, neste decénio, só um par de CD na ECM (“The Rub and Spare Change” e “Small Places”, ambos em quarteto) veio interromper. Não obstante a excelência de cada um, cumpririam neste raciocínio a função dos exercícios que terá de fazer quem pretenda recuperar uma determinada capacidade motora. Até em virtude de uma curiosa titulação – “The Distance” é dominado por “Exoskeleton”, uma suíte com cerca de uma hora, formada por andamentos como ‘Impenetrable’ ou ‘Beneath de Shell’ – salta à memória esse registo mais remoto.

Mas nada deixava antever a magnificência de que o atual se reveste. No material de promoção da editora, Formanek admite um peculiar conjunto de influências: Messiaen, Mingus, Sun Ra, Anthony Braxton ou Henry Threadgill. Mas não se levará a mal quem, intoxicado, por exemplo, pelo que escute em ‘Beneath the Shell’, se deixe transportar para aquele tempo em que verve melódica, elegância rítmica, subtileza harmónica e apurado sentido do dramático eram combinados por Gil Evans ao serviço de Miles Davis ou por Billy Strayhorn à sombra de Duke Ellington. Convenhamos, comparada à paleta de infinitas matizes de que se socorriam essoutros orquestradores, Formanek recorre, aqui, a pouco mais que uma escala de cinzentos (entre os instrumentos deste Ensemble Kolossus incluem-se quatro trombones, clarinete baixo ou saxofone barítono). Ou seja, pese embora a referência à antiguidade grega, não se terá deixado subjugar inteiramente por aquilo que, um dia, Tom Zé definiu como “complexo de épico”. No entanto, nem a agilidade das suas cadências, o exotismo das suas modulações ou o sotaque dos seus solistas compromete a coesão de uma expressão coletiva que se arrisca a ficar para a história.

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