20 de maio de 2017

“The Original Sound Of Mali” (Mr Bongo, 2017)


Era a primeira geração a crescer com o rock’n’roll. Aliás, há cerca de sete anos, ao recordar esse tempo, Malick Sidibé dizia o seguinte ao “The Guardian”: “Foi a música que nos libertou. Entrávamos numa nova era. As pessoas queriam dançar. Subitamente os rapazes podiam aproximar-se das raparigas, senti-las nos seus braços. O que anteriormente não se permitia. Toda a gente queria ser fotografada bem agarradinha. Eles queriam ver-se.” Isto é, através dos retratos, sem menosprezo por muitas coisas mais, procuravam ocupar o mesmíssimo espaço público a que o regime colonial lhes tinha vedado o acesso, projetar uma imagem secular e cosmopolita ou identificar-se enquanto agentes de modernização. Como tantos jovens por esse mundo fora, num quadro de alterações comportamentais sem precedentes, definiam-se por aquilo que à sua própria cultura subtraíam e adicionavam e pelo que da cultura dos outros excluíam ou não. Sidibé, com a sua câmara, criou a crónica visual do período. De uma energia tão emblemática, por sinal, que, agora, uma compilação que se propõe a produzir o seu equivalente fonográfico nem precisa de colocar título na capa – basta-lhe a reprodução de “Les trois amis avec moto”. No disco, cá estão as cartilhas da independência e da liberdade expressas exatamente nas linguagens musicais mais revolucionárias à face da terra, sim, mas, em virtude das contínuas pressões dos regimes de Modibo Keïta e Moussa Touré, que escutavam emanações imperialistas em qualquer estilo desenvolvido fora de portas, surge também uma nova estética folclórica que, como não poderia deixar de ser, possui muito de fictício. Há material inédito em CD (de Super Tentemba Jazz, Super Djata Band ou, até, da Rail Band) e outro reeditado noutras paragens (o de Sorry Bamba na Thrill Jockey, em 2011, o de Les Ambassadeus du Motel na Sterns, em 2014, o de Idrissa Soumaoro et L’Eclipse de L’Ija na Mississippi, em 2015). Mas há quase dez anos, desde “Mali 70: Electric Mali”, que não se ouvia nada assim.

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