29 de julho de 2017

Agenda: Jazz em Agosto


Põe-se a tocar “Incidentals”, o novo disco de Tim Berne com os Snakeoil, e parece que sai nevoeiro das colunas. O tema chama-se ‘Hora Feliz’ e a sua introdução poderia descrever a emoção dos membros da frota comandada por Pedro Álvares Cabral quando, ao longe, se anunciaram os contornos daquela aparição cintada pela neblina dos trópicos que o capitão batizou como Monte Pascoal. Muito do que aí se escuta se deve à guitarra de David Torn, uma presença algo messiânica na vida de Berne desde que há coisa de 20 anos se cruzaram. De então para cá, Berne recorre a Torn como, numa cidade, os responsáveis pelo ordenamento lançam mão da arquitetura paisagista. São alguns dos aspectos orgânicos que Sun of Goldfinger (Berne no saxofone alto, Torn à guitarra elétrica e Ches Smith na bateria) conjugará hoje, pelas 21h30, no Anfiteatro ao Ar Livre da Fundação Calouste Gulbenkian. Como é óbvio, a presença do trio na edição deste ano do festival Jazz em Agosto justifica-se pelo facto de pôr em cena problemáticas da sua condição: como desafiar convenções sem ignorar valores patrimoniais? Ou, como devolver ao corpo aquilo que dá mostras de viver exclusivamente no pensamento? São questões que também inquietam Steve Lehman, que, antes, pelas 18h30, na Nave da Coleção Moderna do Museu Gulbenkian, tratará de expandir a noção do solo através de programação rítmica e eletrónica. Considerações semelhantes terão conduzido as pesquisas do guitarrista Julien Desprez, que se apresentará amanhã, no Auditório 2, pelas 18h30, numa atuação imprópria para epilépticos. Às 21h30 subirá ao Anfiteatro ao Ar Livre enquanto um dos oito elementos da Coax Orchestra, formação dada a vigorosos choques no sistema nervoso, a distúrbios de toda a espécie e constantes mudanças de humor. Também num domínio praticamente patológico opera o dueto de Peter Brötzmann e Heather Leigh – o seu disco de maio chama-se “Sex Tape” e não deve andar longe do que se ouvirá segunda-feira à noite, num momento imperdível. O festival prossegue terça, com o ‘quinteto escandinavo’ de Susana Santos Silva, quarta com o quarteto Sudo (Zíngaro, Léandre, Tramontana, Lovens) e quinta com os Starlite Motel, antes dos Fictive Five, de Larry Ochs, darem esta primeira semana por encerrada, noutro concerto obrigatório.

Sem comentários:

Enviar um comentário