15 de outubro de 2011

“Brand New Wayo: Funk, Fast Times & Nigerian Boogie Badness 1979-1983” (Comb & Razor Sound, 2011)

Embora quase se eclipsem quando consigo comparadas, antologias como “Lagos Disco Inferno” ou “The World Ends: Afro Rock & Psychedelia in 1970s Nigeria” abriram o caminho para o que, agora, permite “Brand New Wayo” entender: que, nos quatro anos a que se refere o seu subtítulo, na elusiva democracia de uma endinheirada Nigéria – a da Segunda República, de Shehu Shagari – se puseram em prática técnicas de produção dignas de uma superpotência cultural. O exemplar livro de 80 páginas que acompanha a compilação funciona como uma vibrante parábola de ascensão e queda civilizacionais (com os dividendos do boom petrolífero espalhados por incontáveis sacos azuis e um clima generalizado de festa a acompanhar o afundar do país em dívida), ainda que a música, essa, vá sempre a subir. E em capítulos dedicados a produtores, cantoras, bandas e editoras faz pulsar uma narrativa essencial para a compreensão de uma inflexível agenda de afirmação estética à escala global. Ao ponto de, numa inversão de paradigma, parecerem seus sucedâneos aqueles que de facto ditavam as modas: porque a síntese de funk e disco aqui ensaiada nada deve ao optimismo formal dos Chic de ‘Good Times’, à volúpia dos Heatwave de ‘Boogie Nights’, ao funcionalismo rítmico dos Kool & The Gang de ‘Jungle Boogie’, à sensualidade cativa dos KC & The Sunshine Band de ‘I’m Your Boogie Man’ ou ao oportunismo dos Earth, Wind & Fire de ‘Boogie Wonderland’. Na dilatação de uma fórmula que se imaginava já inextensível – e a que não será indiferente o artifício arquitectónico de Michael Jackson, o absurdo libertário dos Parliament ou o pragmatismo de Rick James e Cameo – é a isto que soam os instintos rapaces de uma era que teve em Kris Okotie, Joe Moks, Amas, Oby Onyioha, Dizzy K. Falola, Bayo Damazio ou Martha Ulaeto arautos de um futuro que nunca chegou.

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