17 de novembro de 2012

Krar Collective “Ethiopia Super Krar” (Tugboat, 2012)



O título era medonho, mas com a compilação “Noise & Chill Out – Ethiopian Groove Worldwide” pretendia-se já veicular a ideia de que, conforme o glossário gastronómico sugere, também na produção musical à escala global se traduz ‘redução’ por intensificação. E, de facto, como em tempos se passava com modas e ritmos das tradições celta, judaica ou eslava, é mesmo naquele tipo de enlaces particularmente exogâmicos que mais depressa se identificam demarcadas características que, muito por culpa da mais rasteirinha antropologia, se julgavam obrigatoriamente endógenas. Por isso, depois das exumadoras pazadas com origem na colecção Éthiopiques, é inevitável concluir que, com os mais improváveis remetentes e com maior ou menor ligação à diáspora, se identificará com frequência descendentes mais ou menos legítimos da sua estirpe. Basta ouvir a Debo Band em Boston, a Imperial Tiger Orchestra em Geneva, os Pyramid Blue em Madrid, a Souljazz Orchestra em Ottawa, a Budos Band em Nova Iorque ou Nicolas Jaar um pouco por toda a parte para se perceber que o interesse por certa escala pentatónica ou por determinado modalismo vindos da Etiópia está a alargar o livro de estilo de importantes tangentes da música popular de forma mais substantiva do que, dado o maná extraído e logo deglutido por Kanye West, Jay-Z, Madlib ou Nas em discos de Mulatu Astatke, por exemplo, à primeira vista poderia parecer. É nessa perspectiva – embora com estreitas ligações à comunidade emigrante – que se deve compreender a vibrante estreia do londrino trio Krar Collective, liderado por Temesgen Zeleke nas lira, rabeca e flauta etíopes, e com o percussionista Robel Taye e a cantora Genet Assefa, numa expansão praticamente psicadélica do depurado legado de Asnakech Worku, acessível, contagiante e, como não poderia deixar de ser, já nem daqui nem de acolá.

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