6 de setembro de 2014

Unsuk Chin: 3 Concertos (Deutsche Grammophon, 2014)



Sunwook Kim (p), Alban Gerhardt (vc), Wu Wei (sheng), Seoul Philharmonic Orchestra, Myung-Whun Chung (d)
Coisa rara, esta, de vir um CD inaugurar um conjunto de primeiras gravações de obras de uma compositora contemporânea familiar a palcos portugueses. Eis o “Shu para Sheng e Orquestra”, que Wei levou ao CCB, em janeiro, ou o “Concerto para Violoncelo”, que Gerhardt conduzirá à Sala Suggia, na Casa da Música, dia 27 deste mês. Aliás, este ano, Unsuk Chin é a ‘Compositora em Residência’ na instituição portuense. Com o “Concerto para Piano” possuem, um e outro, uma atmosfera de encantamentos e sortilégios, sujeita à pressão de forças primitivas que só a ironia tempera – daí soar o que se consagra ao instrumento de palheta livre tão conscientemente ritualista e exótico. Já Kim toca com espírito de ferreiro mas cada martelada produz algo com a solidez de pingos de chuva em areia molhada. Trata-se aqui de espelhos e labirintos, de mecanismos em contratempo. A sugerir uma imagem, seria a de um ser humano a regredir da velhice à infância, ou qualquer outra que inspire a ilusão de simplificar o que jamais terá interpretação fácil. Instantes há em que as notas circulam do mandolim para a marimba, do flautim para o fagote, do tímpano para o trombone, como numa coreografia desenvolvida por Carl Stalling para a Warner Bros. ou por Scott Bradley para a MGM. No “Concerto para Violoncelo” tudo começa com Gerhardt, como a ponta do edifício mais alto de uma cidade submersa a erguer-se das águas. No fim, violoncelo e orquestra lutam como dois rivais que se cruzem na clareira de uma floresta: mais veloz um, mais forte o outro, ferem-se mutuamente e logo regressam às sombras em que Chin os aguarda.

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