31 de dezembro de 2015

Holliger: Machaut-Transkriptionen (ECM, 2015)





Geneviève Strosser (va), Jürg Dähler (va), Muriel Cantoreggi (va), The Hilliard Ensemble


Em notas de apresentação, Heinz Holliger fala-nos de novas perspetivas. Refere-se, como é óbvio, à sua própria atividade enquanto compositor e ao impacto que nela teve o “estudo aprofundado” da obra de Guillaume de Machaut (1300-1377). Mais à frente no texto, quando faz referência a cada uma destas suas “Transcrições” (dispostas no CD de modo alternado com alguns dos modelos de que procedem, como “Biauté qui toutes autres pere” ou “Hoquetus David”), recorre a palavras como “atomização”, chegando a fazer alusão à “excitação de partículas” não tanto como ela é estudada pela física mas antes como surge na poesia de Celan (Partikelgestöber). Não explica que, mais tarde, Celan teve de tornar claro que esses versos eram em parte instigados pela memória de Hiroxima e escritos “em prol da humanidade e contra o esvaziar e o atomizar [dos seus valores].” Seja como for, o poema permanece útil para quem queira explicar algo do que aqui se passa. Por exemplo, que, no seu melhor, já não são bem os temas de Machaut e os de Holliger que estão eficazmente tecidos lado a lado mas sim outra coisa qualquer que entre eles se colocou, que os esgarçou e tornou a coser e de que mal conseguimos hoje entrever as costuras: 600 anos de cinzas. A ideia não é nova. Afinal, Machaut, por intermédio de Schoenberg ou Messiaen, havia chegado a Goeyvaerts, Boulez e Stockhausen. Mas a sua aplicação, é. Com clímax em “Complainte und Epilog”, não se pretende tanto conferir autoridade a um programa de música contemporânea por via da especulação historicista quanto fazer com que um tempo se dissolva no outro.

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