18 de fevereiro de 2017

Mozart: Violin Concertos (Harmonia Mundi, 2016)


É um conjunto de opúsculos que, em rigor, não faz propriamente falta no mercado. Aliás, quando a Universal alargou ainda mais o cinto à sua já de si inchadíssima integral, através dos 200 CD de “Mozart 225: The New Complete Edition”, a monumental operação de dragagem que limpou arquivos a 18 editoras diferentes, lá estão, à volta deles, Viktoria Mullova e a Orchestra of the Age of Enlightenment, Giuliano Carmignola com Claudio Abbado e a Orchestra Mozart, Anne-Sophie Mutter e a London Symphony Orchestra ou Hilary Hahn com Paavo Järvi e a Deutsche Kammerphilharmonie Berlin. Claro que se poderia somar a tudo isto Itzhak Perlman com James Levine e Gidon Kremer com Nikolaus Harnoncourt, ambos com a Wiener Philharmoniker a seu lado, ou, naturalmente, Arthur Grumiaux com Colin Davis e a London Symphony Orchestra. 

Mas para se encontrar alguma afinidade com o que Isabelle Faust e o Il Giardino Armonico de Giovanni Antonini agora propõem seria melhor invocar as gravações de Thomas Zehetmair com a Orchestra of the Eighteenth Century dirigida por Frans Brüggen. Por uma questão de proporções, é certo (com ensembles a rondar os 25 elementos), mas fundamentalmente pela ligeireza que daí advém, pela rapidez de movimentos, pelo desembaraço, pela velocidade com que se reage ao mais caprichoso, espontâneo e frívolo desta música sem por um instante lhe comprometer o ímpeto pubertário, a força telúrica, a extravagância, a ambiguidade e o drama que no seu íntimo se encontram. Não obstante, há momentos em que o tom de Faust parece assoberbado: nos dois Adagio do “Concerto Nº 5 em Lá maior”, por exemplo, em que os seus instintos se diriam vagamente anestesiados, quiçá por sentir que não conseguiria igualar a coloratura de “Soave sia il vento”, a ária de “Così fan tutte” em que, anos mais tarde, estas tremeluzentes fusas ressurgiriam. Fora isso, honra perfeitamente o carácter destes cinco concertos para violino que Mozart compôs aos 19 anos e através dos quais foi progressivamente testando os seus limites. E em novas cadenzas, de Andreas Staier, chega mesmo a apontar sentidos inusitados.

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