28 de outubro de 2017

Bill Evans “Another Time: The Hilversum Concert” (Resonance, 2017)



É uma editora dada à hipérbole, a Resonance. “Este não é um álbum qualquer”, escrevia Zev Feldman, seu produtor, em fevereiro de 2016, a propósito de “Some Other Time: The Lost Session from the Black Forest”. Trata-se de um testemunho “notável de um período pouco documentado na carreira de um dos ícones do jazz”, continuava, “um grande álbum que obrigará a reescrever os livros de História”. Resumindo: “É o único disco gravado em estúdio por Bill Evans com Eddie Gómez e Jack DeJohnette”, uma frase que dava a volta ao único registo oficial do trio, “Bill Evans at the Montreux Jazz Festival”. Um ano depois, em fevereiro de 2017, portanto, Feldman estava à cata de palavras: “O Marc Myers [jornalista, crítico de jazz e autor das notas de apresentação de “Some Other Time”] escreveu-me a dizer que foi contactado por um entusiasta holandês que nos queria alertar para o facto de haver uma outra gravação deste trio captada a 22 de junho de 1968 nos estúdios da emissora nacional, em Hilversum”.

Pense-se em Jeffrey “The Dude” Lebowski no banco de trás de uma limusina a explicar-se perante Jeffrey “The Big” Lebowski que se terá uma versão mais abreviada da coisa: “Vieram a lume umas merdas novas, pá!” Oportunidade, então, para a Resonance elevar ainda mais a fasquia: “É tão importante quanto o trio que Evans liderou em 1961, com Scott LaFaro e Paul Motian”, diz Myers. Dificilmente. Parece ignorar-se que, nisto, mais vale agradecer com a verdade, que ofender com a lisonja. E havia uma forma mais humilde de dizer ao que se vinha. Bastava seguir à boleia de uma famosa frase de Evans, impressa na contracapa de “Kind of Blue”, em que se sugeria uma equivalência entre a técnica de pintura Sumi-e, no Japão, e a improvisação, e dizer que aqui se procedia de acordo com a visão do mundo Wabi-sabi, ancorada na estética do belo que é “imperfeito, impermanente e incompleto”. Aliás, a mais-valia é exatamente essa: perante a inadequação de DeJohnette e a inibição de Gómez, como no Kintsugi (o restauro a ouro de cerâmica lascada), eis Evans a reparar delicadamente peças partidas – em paz com o destino.

Sem comentários:

Enviar um comentário