4 de novembro de 2017

Mendelssohn: Violin Concerto; Symphony No. 5 ‘Reformation’; The Hebrides (Harmonia Mundi, 2017)


Nem sempre com sucesso, Mendelssohn procurava transferir para as suas composições alguma imediatez: “Para ficares com uma ideia do extraordinário efeito que as Hébridas produziram em mim envio-te isto [as primeiras notas da futura Abertura], que compus no local”, dizia ele à sua irmã Fanny, em 1829, num postal que lhe mandou da Escócia; “Tenho um [Concerto para violino] em mente, em Mi menor, cujo início não me está a dar descanso”, confessava ao virtuoso Ferdinand David, em 1838. É certo que a sua escrita epistolar se alimentou mais a alcaloides do que a musical, mas, ainda assim, é raro encontrar uma gravação, como esta, que ambicione refletir o que possuiu de mais pletórico, violento e repentino, isto é, que tente situar com maior exatidão aquele momento em que na sua obra veio ao de cima o fulgor e a frescura de uma juventude que, no fundo, nada teve de convencional – um famoso menino-prodígio, Felix Mendelssohn morreu há exatamente 170 anos, a 4 de novembro de 1847, com 38 anos de idade. Agora, dir-se-ia que nem Isabelle Faust nem Pablo Heras-Casado têm igualmente tempo a perder. Aliás, no “Concerto para Violino em Mi menor”, não fosse a judiciosa ausência de vibrato, a alemã parece agir sob delírios e ardores contínuos. Em particular no avassalador Allegro molto appassionato inicial e respetiva cadência, a um mundo de distância dos frufrus de Menuhin e dos acetinados de Chung, por exemplo, tudo em si tanto pulsa quanto as congestões e inflamações na partitura palpitam. Já o espanhol está mais convincente a acentuar contrastes em “As Hébridas” do que a acender pauzinhos de incenso na “Sinfonia Nº 5 em Ré menor”, dedicada àquela Reforma Protestante que fez há dias 500 anos.

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