20 de janeiro de 2018

Elmer Bernstein/Chico Hamilton Quintet "Sweet Smell of Success" (Verve, 2017)



Em 2000, num livro de memórias, Buddy Collette refletia sobre improvisação. Dava como exemplo o carácter algo arbitrário daquilo que se passava no quinteto de Chico Hamilton: “Um de nós sugeria um motivo, uma figura, e prosseguíamos com respostas, cadências, fugas, recapitulações, esse tipo de coisas. As frases iam circulando [entre os membros do grupo], desdobravam-se e regressavam como um eco.” Havia já Collette abandonado a banda, trata-se de uma boa descrição para o que acontece em ‘Concerto of Jazz Themes from the Sound Track of ‘Sweet Smell of Success’’, um marco na história da música improvisada a que não se dá o devido apreço. Numa coluna de 2003, na “Down Beat”, no ano passado reproduzida em “Vinyl Freak”, John Corbett foi dos poucos a dar por ele: “Tinha ouvido dizer que alguns grupos de Hamilton tocavam de modo espontâneo, e não se trata de uma prática sem precedentes. Mas creio que esta pode ter sido a primeira vez que se ocupou o lado inteiro de um LP com música livre."

Porque nada do que aí se escuta efetivamente acompanha o desenrolar da ação, a Fresh Sound excluiu-a da reedição que fez em 2008 da integral da música composta para o filme de Alexander Mackendrick – mas ela aqui está, tal como, no mesmo ano, surgiu noutro lançamento semelhante da él (aí, o corte de cabelo feito à matriz fonográfica, em vinil, fez algumas peladas; aqui, presume-se que a partir das fitas da Decca, o penteado assenta melhor mas saiu curto – em relação ao alinhamento de 1957, falta ‘Jonalah’). Agora, além do que fizeram Hamilton e Fred Katz, acompanhados por Paul Horn, Carson Smith e John Pisano, inclui-se igualmente neste título a música composta por Elmer Bernstein, desta feita na sua sequência original. Há metais com surdina (na banda sonora, dir-se-ia cumprirem a função, para quem agride, do sabonete dentro da meia: ferir sem deixar uma nódoa negra), cordas de mau agoiro e exatamente o que se espera para um filme tão negro que a luz do sol só aparece ao minuto 45. Bem à medida dos papéis de Burt Lancaster e Tony Curtis, como ratos de laboratório num labirinto de néon.

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