Há por vezes um vazio crítico em torno dos sons que chegam do Mali. Ou, na melhor das hipóteses, valoriza-se o arremesso instrumental e ignora-se a lírica. O melhor e o pior deste sucessor de “Segu Blue” reforçará a evidência. Porque triunfa o álbum ao abraçar o mundo sensual e falha ao estender-se ao político sem que isso perturbe a sua eufórica recepção na imprensa europeia: mas em nenhuma outra arte popular terá ainda significado quem, por exemplo, refere as crianças como o futuro ou as mulheres como mães de todos nós enquanto sugere que é hora de acabar com as guerras. E logo quando se anuncia num título que, no campo da etnicidade, é exemplarmente aforístico: fala hoje em inglês o jeli (cantor de louvor) que, vindo da tradição Bamana, afirma cantar no dialecto Fula. A música, em parte, corresponde a essa nova lingua franca. E, num contexto de inédita elegância (quarteto de ngoni), combinando estilos de rara conjugação e com Vieux Farka Touré ou Toumani Diabaté como convidados, consegue este segundo disco de Bassekou Kouyaté acercar-se da construção própria dos clássicos. Deixa é para demasiado tarde – numa tríade que começa numa canção de embalar, passa pela memória de um pai falecido e termina numa balada de caçador – tudo o que de novo, singular e belo tem para dizer.
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