São hoje conhecidas as múltiplas manifestações culturais de uma Tanzânia então uniformizada pela propaganda. Talvez por isso – apesar de ser possível concentrar atenções na obra de Mlimani Park Orchestra, Dar International Orchestra e Vijana Jazz Band fazendo-a depender do patrocínio do regime – se liberte de constrangimentos políticos este quinto volume da série “Zanzibara” (irmã, na Buda, da mais prestigiada “Éthiopiques”). Porque esta nova era para a música popular de Dar es Salaam cruzava tradições tanzanianas com o que de mais significativo chegava do Zaire ou do Quénia sem que as elites se interrogassem quanto à sua legitimidade nacionalista. E foi esse impulso – a par da reabilitação do swing de tempos coloniais filtrado por uma apertada malha funk – que precipitou a explosão da musiki wa dansi, febre que durou até final dos anos 80 quando sintetizadores e caixas de ritmo substituíram instrumentistas. Mas aqui celebram-se ainda bandas com três dezenas de músicos capazes de espelhar em palco os mais graciosos gestos nas pistas de dança, até, por fim, entre espirais de guitarras eléctricas efervescendo como bolhas em bebidas gasosas e secções de sopro dialogando como claques rivais em bancadas opostas, se revelar um inesperado centro criativo para a África oriental.
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