James Brown disse muitas coisas espantosas. E não se vislumbra uma leitura tão rigorosamente suspensa entre a contínua admiração e a permanente desconfiança quanto a da sua autobiografia. Ainda assim, restam ao fim de todos estes anos momentos de irresoluta perplexidade na sua interpretação, como aquele em que se refere à música africana revelando nada ter encontrado no continente negro que lhe permitisse reconhecer as suas raízes. Mais perturbante ainda será não lhe ter sequer servido de matéria para reflexão o repetido facto de – do Zaire à Nigéria – tudo o que por lá ouviu lhe parecer um eco distorcido da sua própria produção. Na verdade, ainda que ignorasse aquilo que a etnomusicologia do seu tempo caracterizava como um “eco de outro eco”, de nada valem as suas palavras face ao que provou em disco. E também porque não faltariam candidatos a demonstrar-lhe na prática a origem da ancestral força espiritual que tão bem evidenciava em palco e em estúdio, bastaria uma palavra sua para que dessas viagens tivesse levado mais que banhos de multidão e dinheiro de ditadores. A Poly-Rythmo, por exemplo, sempre que se dedicou ao jerk (expressão que qualificava temas tradicionais do vodun ‘modernizados’ ao jeito da pop ocidental) confirmou dominar a mesmíssima grandeza matricial do groove por si dilatado e, mais concretamente, igualar a modelar destreza polirrítmica do seu baterista, Clyde Stubblefield. E não se poderia imaginar mais eficaz banda para o acompanhar quando, em “Hell” (1974), cantava o que sabe qualquer homem no Benim: “a man has to go back to the crossroads before he finds himself”. Esta é, em sete anos, a quarta antologia consagrada à orquestra de Cotonou, a primeira a libertá-la dos fantasmas de Franco e Fela Kuti e a melhor a representá-la pela sua acção natural: na virtual dependência do “Padrinho do Soul”.
I've just discovered your blog. Thanks for the link to >jammagica< ! Your blog is now on my favorite blogs list. Friendly , Pierre 'Z j A k'
ResponderEliminarThank you, Pierre!
ResponderEliminar