Não havendo nada de intrinsecamente errado com a música reunida nesta antologia (até por entre as acrobacias vocais de Lennie Dale se aproveita o acompanhamento do Sambalanço Trio), a verdade é que trai uma a premissa da outra, que é a de celebrar a visão da bossa nova sugerida por Aloysio de Oliveira, fundador da Elenco. Logo porque as gravações do quarteto MPB-4 e as mais tardias de Edu Lobo, por exemplo, pertencem a um período em que eram outros a traçar o destino da editora, e, fundamentalmente, porque se concentra esta selecção em repertório afro-baiano (talvez pela errónea atribuição ao catálogo da Elenco, no livreto, de “Os Afro-Sambas”, de Baden Powell e Vinicius de Moraes, produzido pela Forma) e em canções de intervenção (com Nara Leão, em ‘Maria Moita’, cantando “O rico acorda tarde, já começa a resmungar/ O pobre acorda cedo, já começa a trabalhar” ou Edu, em ‘Upa Neguinho’, dizendo “Capoeira! Posso ensinar/ Valentia! Posso emprestar/ Mas liberdade, só posso esperar”). Ignora-se ainda o talento de Aloysio enquanto compositor e letrista (para tal bastava, em vez de os excluir de todo, ter coligido Maysa com ‘Dindi’, Dick Farney com ‘Inútil Paisagem’ ou Dorival Caymmi com ‘Só Tinha de Ser com Você’, parcerias com Jobim) e incorre-se numa vexante inexactidão: a presente versão de ‘Samba de Uma Nota Só’, cantada por Sylvia Telles, não é a que a cantora gravou para a Elenco em “The Music of Mr. Jobim”, de 1965, mas sim outra, cinco anos antes lançada pela Philips em “Amor em HI-FI”. Apesar de tudo, há também peças de inextinguível graça e irrepetível grandeza estética: ‘Berimbau’, por Vinicius e Odete Lara, ‘Coisa Nº1’ interpretada por Baden Powell num arranjo de Moacir Santos, ‘Negro’, por Lúcio Alves, e ‘Adriana’, da banda de Roberto Menescal com Eumir Deodato. Era por aí.
Roberto Menescal e seu Conjunto 'Cinco por Oito'
Roberto Menescal e seu Conjunto 'Cinco por Oito'
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