21 de janeiro de 2012

"Bossa Jazz: The Birth of Hard Bossa, Samba Jazz and the Evolution of Brazilian Fusion 1962-73" (Soul Jazz, 2011)

Bossa jazz. Quanto mais se pensa no assunto mais disposto se fica a contrariar a apósita tipificação. Não por logo se recordarem os versos de ‘Influência do Jazz’, com os quais, em 63, Carlos Lyra declarava “pobre samba meu/ (…) pra não ser um samba com notas demais/ (…) vai ter que se virar pra poder se livrar/ da influência do jazz”. Mas, efectivamente, e tal como sugerido por Ruy Castro no livro “Chega de Saudade”, por parecer impossível conciliar a proposta de João Gilberto com aquilo que a partir de 61 produziram Luiz Eça (Tamba Trio), Luis Carlos Vinhas (Bossa Três), J. T. Meirelles (Copa 5) ou Tenório Jr. (Quinteto Bottle’s). E, no entanto, talvez por se inspirarem por uma matriz que à guitarra traçou um ponto de encontro e desencontro com a verdade histórica, foi precisamente através dessa subtil decantação do samba que os músicos de jazz brasileiros ganharam rumo e se estabeleceram numa posição de irredutível ambiguidade. Esta antologia, que tem a sua maior limitação num arco temporal que frustra qualquer explicação (e que, em rigor, deveria terminar em 75, o ano de ‘Patumbalacundê’, de João Donato, um dos temas que colige), aflora o impulso mas atribui-lhe excessivas consequências: por exemplo, as gravações de Airto Moreira, Dom Um, Sérgio Mendes, Quarteto Novo, Walter Wanderley ou Edu Lobo aqui incluídas devem mais à (re)descoberta da música nordestina do que à bossa. E, em termos de tese, o retrato jamais ficaria completo sem menções à Turma da Gafieira, a Victor Assis Brasil, Laurindo Almeida, Egberto Gismonti, Moacir Santos ou aos Cinco-Pados, Rio 65, Gatos, Jongo Trio, Som 4, Ginga Trio, Cobras, Catedráticos, Tatuis ou Sambossa 5, que omite. Ainda assim, nada compromete a exuberante intangibilidade desta música que acompanhou com elegância um mundo em desintegração.

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