7 de janeiro de 2012

“Rangarang: Pre-Revolutionary Iranian Pop” (Vampisoul, 2011)

A 31 de Dezembro de 2011, o presidente Obama promulgou sanções relativas a instituições financeiras internacionais com ligações ao banco central iraniano; por sua vez, no dia de ano novo, enquanto prosseguia com exercícios militares no Estreito de Ormuz, Teerão anunciou um avanço tecnológico importante na área da energia nuclear. A Leste e a Oeste, portanto, nada de novo. Daí o apurado sentido de oportunidade desta nova compilação. Nem que seja pelo simples facto de permitir o enquadramento de tão perturbadores sinais do tempo num cenário mais abrangente que o dos noticiários. Mas não se poderá seguir à letra a narrativa da sua apresentação: porque, ao compará-lo com o de hoje, isenta de responsabilidades o regime de um Xá, Mohammad Reza Pahlavi, que, relembre-se, foi herdeiro de uma intrusa dinastia de pai e filho sustentada pela anuição a interesses ocidentais, e cuja flagrante corrupção, incapacidade de conduzir reformas até a uma efectiva abertura da sociedade ou hostilidade à dissensão política precipitaram a Revolução Islâmica de 1979. Além de se repetir aqui a mesmíssima redução filosófica ensaiada por antologias similares (da garagista “Raks! Raks! Raks!” e da profundamente distópica mas musicalmente infalível “Pomegranates” até às recentes retrospectivas dedicadas a Googoosh pela Finders Keepers e a Kourosh Yaghmaei pela Now-Again), ao contrariar-se a atual demonização cultural do homogeneizado Irão no ocidente através de produções de época que mais devem à estética anglo-saxónica do que propriamente à persa. Contudo, os materiais de esperança agora reunidos manifestam-se iminentemente relevantes: pois lembram um instante em que se pintou com todas as cores do arco-íris (precisamente um dos significados de rangarang em farsi) aquilo que nos últimos 30 anos se cobriu de negro.

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