12 de maio de 2012

Céu “Caravana Sereia Bloom” (Universal, 2012)


Veiculando uma desadequada lassidão, primeiro no homónimo disco de estreia (“CéU”, 2005) e posteriormente em “Vagarosa” (2009), Maria do Céu Whitaker Poças sempre pareceu seguir procedimentos de produtor. O que, em abono da verdade, lhe garantiu mais-valias comerciais e o favor da crítica. Mas no prudente equilibrismo formal desenhado com o compasso do dub e temperado com a indefinição do jazz que lhe marcava o passo pressentia-se também uma contemporaneidade postiça, de curto alcance intelectual e, a espaços, previsível unidimensionalidade. Só que a técnica não tem de ser um estorvo. E, num enquadramento estético francamente livre e apropriadamente errático, para o qual terá contribuído a ação de Gui Amabis, Pupillo ou Dustan Gallas, este “Caravana Sereia Bloom”, na mesma proporção em que aparenta uma mais realista objectivação processual, sugere uma expressão autoral de rara clareza e dramática introspecção. E, numa elíptica narrativa equivalente ao cinematográfico road movie que em nada lhe compromete a fluidez, as suas canções reflectem as experiências da estrada seguindo instintos de sonoplasta e um dispositivo tão dispersivo quão restaurativo. Nessa medida, não surpreende que os seus momentos de maior acuidade se encontrem em ‘Amor de Antigos’, ‘Retrovisor’ e ‘Baile de Ilusão’, temas escritos pela cantora que tão bem traduzem esse desígnio ontológico, essa emulsão da memória vertida para as páginas de um diário. Aliás, é pela combinação sincrónica e não hierarquizada da matéria musical histórica (no caso: a guitarrada de Mestre Vieira, o tropicalismo de Gil, a jovem guarda de Erasmo, o psicadelismo de Rita Lee ou o regionalismo dos Novos Baianos) que Céu comunga finalmente da mais distinta característica da sua geração: o repúdio do preconceito enquanto uma libertária e extática revogação da apatia.

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