Há pelo
menos dez anos que, através de compilações, (já não tão) jovens europeus se entregam
à difusão de uma fantástica conceção da música popular africana das décadas de
60 e 70, coadunada, por sua vez, com o desejo de se disputar a versão oficial
dos acontecimentos no discurso cultural que acompanha o assunto. Tal impulso
deu ainda origem a um fabuloso espaço de contínuo trânsito ficcional entre
géneros supostamente canónicos que substituiu premissas historiográficas por
uma narrativa de inveracidade factual com resultados frequentemente
deslumbrantes em termos estéticos, embora, também, eticamente reprováveis. O
ganês Rob Reindorf será vítima disso mesmo, quando, em 2002, pela sua inclusão
em “Ghana Soundz: Afrobeat, Funk and Fusion in the 70's”, viu incompleta e anacronicamente
celebrada a sua declamação coital no tema com que batizou este seu segundo – e,
ao que tudo indica, último – álbum de 1977, num momento em que, em Acra, sem
especial notoriedade, e sem que por isso alguém se viesse a interessar, se
dedicava ao gospel. Só que nem as editoras
nem os seus seguidores têm de antepor o material contemporâneo ao de arquivo,
nem, muito menos, se lhes exigirá que o contextualizem de acordo com quaisquer parâmetros
de valorização artística que não os ocidentais. Mas a verdade é que apenas a
reedição integral de álbuns permite a substituição da fantasia interposta pela
original. E, no caso, dessa maneira se entende que as lúbricas elucubrações de Rob
(cuja LP de estreia foi no ano passado relançado pela Analog Africa) partiam da
megalomania sexual rumo à submissão religiosa sem por um segundo abandonarem a
mais blasfemadora cadência, a mais histriónica lascívia, mas, igualmente, sem
deixarem jamais de sugerir a untuosa leitura do evangelho pela qual deveriam
efetivamente ser recordadas. E isso vale um disco inteiro.
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