19 de maio de 2012

Rob “Make It Fast, Make It Slow” (Soundway, 2012)


Há pelo menos dez anos que, através de compilações, (já não tão) jovens europeus se entregam à difusão de uma fantástica conceção da música popular africana das décadas de 60 e 70, coadunada, por sua vez, com o desejo de se disputar a versão oficial dos acontecimentos no discurso cultural que acompanha o assunto. Tal impulso deu ainda origem a um fabuloso espaço de contínuo trânsito ficcional entre géneros supostamente canónicos que substituiu premissas historiográficas por uma narrativa de inveracidade factual com resultados frequentemente deslumbrantes em termos estéticos, embora, também, eticamente reprováveis. O ganês Rob Reindorf será vítima disso mesmo, quando, em 2002, pela sua inclusão em “Ghana Soundz: Afrobeat, Funk and Fusion in the 70's”, viu incompleta e anacronicamente celebrada a sua declamação coital no tema com que batizou este seu segundo – e, ao que tudo indica, último – álbum de 1977, num momento em que, em Acra, sem especial notoriedade, e sem que por isso alguém se viesse a interessar, se dedicava ao gospel. Só que nem as editoras nem os seus seguidores têm de antepor o material contemporâneo ao de arquivo, nem, muito menos, se lhes exigirá que o contextualizem de acordo com quaisquer parâmetros de valorização artística que não os ocidentais. Mas a verdade é que apenas a reedição integral de álbuns permite a substituição da fantasia interposta pela original. E, no caso, dessa maneira se entende que as lúbricas elucubrações de Rob (cuja LP de estreia foi no ano passado relançado pela Analog Africa) partiam da megalomania sexual rumo à submissão religiosa sem por um segundo abandonarem a mais blasfemadora cadência, a mais histriónica lascívia, mas, igualmente, sem deixarem jamais de sugerir a untuosa leitura do evangelho pela qual deveriam efetivamente ser recordadas. E isso vale um disco inteiro.

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