Seguindo
preceitos mais romanescos do que historicistas, a Soul Jazz apresenta San
Basilio de Palenque como um enclave afrocolombiano, no qual, pelo menos desde o
século XVII, se fixaram escravos fugidos de Cartagena. Sugere-se que se tratará
do primeiro quilombo e mais antiga cidade livre anteriores à abolição da
escravatura em território americano, embora se deva, respetivamente, citar o
Quilombo dos Palmares, na Capitania brasileira de Pernambuco, e Yanga, no estado
mexicano de Veracruz, como precedentes. Seja como for, sob o véu de
pretensiosismo vislumbram-se factos verdadeiramente importantes: nomeadamente,
nos minutos do DVD (do mais frustrante naturalismo) em que se filmam danças com
características eminentemente bacongas – movimentos rasteiros, afincamento de
pés, genuflexão, meneios torçais ou poses rodadas – que, ainda mais do que no
Reino do Kongo, situam abruptamente a ação no Recôncavo Baiano, em sessões de
samba de roda; daqui está também ausente qualquer análise dos componentes
religiosos e ritualistas que se suspeitam de enorme relevância na sua função performativa;
nenhum esforço associa ainda esta música – a ligação é compreensível em padrões
rítmicos e responsoriais – a formas há muito detetadas no Caribe; e, apesar de
se proceder à salvaguarda de distinções dialetais, carece a sua exposição de
uma contextualização etnolinguística no idioma banto ou em especificidades
crioulas. Deslumbrados por aquilo que a antropologia apelida de ‘primeiro
contacto’, os antologistas Santiago Posada e Simón Mejía (fundador dos Bomba
Estéreo) têm o mérito de gravar pela primeira vez uma dezena de valiosas e arrebatadas
formações a que, a convite da editora, estetas da música de dança como
Osunlade, Matias Aguayo, Deadbeat ou Kalabrese, num segundo CD, impõem uma
estilização normativa.
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