21 de julho de 2012

Vários “Jende Ri Palenge – People of Palenque” (Soul Jazz, 2012)


Seguindo preceitos mais romanescos do que historicistas, a Soul Jazz apresenta San Basilio de Palenque como um enclave afrocolombiano, no qual, pelo menos desde o século XVII, se fixaram escravos fugidos de Cartagena. Sugere-se que se tratará do primeiro quilombo e mais antiga cidade livre anteriores à abolição da escravatura em território americano, embora se deva, respetivamente, citar o Quilombo dos Palmares, na Capitania brasileira de Pernambuco, e Yanga, no estado mexicano de Veracruz, como precedentes. Seja como for, sob o véu de pretensiosismo vislumbram-se factos verdadeiramente importantes: nomeadamente, nos minutos do DVD (do mais frustrante naturalismo) em que se filmam danças com características eminentemente bacongas – movimentos rasteiros, afincamento de pés, genuflexão, meneios torçais ou poses rodadas – que, ainda mais do que no Reino do Kongo, situam abruptamente a ação no Recôncavo Baiano, em sessões de samba de roda; daqui está também ausente qualquer análise dos componentes religiosos e ritualistas que se suspeitam de enorme relevância na sua função performativa; nenhum esforço associa ainda esta música – a ligação é compreensível em padrões rítmicos e responsoriais – a formas há muito detetadas no Caribe; e, apesar de se proceder à salvaguarda de distinções dialetais, carece a sua exposição de uma contextualização etnolinguística no idioma banto ou em especificidades crioulas. Deslumbrados por aquilo que a antropologia apelida de ‘primeiro contacto’, os antologistas Santiago Posada e Simón Mejía (fundador dos Bomba Estéreo) têm o mérito de gravar pela primeira vez uma dezena de valiosas e arrebatadas formações a que, a convite da editora, estetas da música de dança como Osunlade, Matias Aguayo, Deadbeat ou Kalabrese, num segundo CD, impõem uma estilização normativa.

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