13 de outubro de 2012

Cumbia Beat Volume 2: Tropical Sounds from Perú 1966-1983 (Vampisoul, 2012)



Eram tempos de engenharia social, no mesocrático Peru de Juan Velasco Alvarado. Mas a sediciosa onda que se ergueu no mar das Caraíbas, vinda de Cuba, chegada à costa colombiana e assomando aos Andes, dir-se-ia um composto lisérgico capaz de despertar mentes e estimular um bizarro código de transgressão estética solidamente ancorado nos mais alienados espíritos. E só mesmo a distância das elites impediu que um acto de transubstanciação tão similar ao ensaiado pelos tropicalistas brasileiros, ainda para mais com mestiça fundação, escapasse a constrangimentos de classe. Ficou por isso, porventura até à década de 80, quase totalmente periférica aos centros de poder esta profética variedade da cumbia que acelerou partículas de son, bolero, rumba, merengue ou mambo no acompanhamento de hipotéticas e heterodoxas reconfigurações tão devedoras do rock’n’roll norte-americano que se ouvia na rádio quanto do folclore andino que as províncias amazónicas e os bairros de lata de Lima celebravam. E foi, de facto, a partir de 1966 que a sincrética composição despontou como uma mutante entidade tropical. Logo atestada pelas guitarras elétricas de Enrique Delgado e Manzanita, e de legiões de seguidores, reflectiu períodos de convulsão política, paranóia militar, reação oligárquica, golpes e contragolpes numa utópica combustão que uns viam como virose de bailarico de sábado à noite e outros como uma abrangente ação contracultural. E adotando o livro de estilo do rock psicadélico e de garagem (efeitos de delay, fuzz, overdrive, wah wah, etc), os seus agentes promulgaram uma delirante realidade ameríndia na era de todas as fantasias ideológicas. Esta nova antologia de 34 temas – com Destellos, Juaneco y su Combo, Ecos, Compay Quinto, Mirlos ou Beta 5 – traça-lhe impacto epocal ambicionando a eternidade.

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