13 de dezembro de 2014

Johnny Alf “Ele é Johnny Alf” (Universal, 2014)



Como escreveu Ruy Castro em “A Onda Que Se Ergueu do Mar”, Johnny Alf (1929-2010) foi daqueles destinados a viver “numa zona de sombra projetada pela sua própria luz”. Até a biografia que lhe dedicou João Carlos Rodrigues é modesta, recorrendo ao subtítulo “Duas ou Três Coisas que Você Não Sabe”, quando são às dezenas, para não dizer às centenas, os factos acerca da sua vida que de modo geral se ignoram. Por exemplo, que nas décadas de 60 e 70 ergueu um monumento em cada ida a estúdio. Ou, como um dia disse, que a homossexualidade era a nuance que efetivamente evidenciava e policiava o seu “comportamento junto às pessoas”, que era, numa alusão a ‘Eu e a Brisa’, “a brisa do título da música”. Ou que jamais domesticou as suas excentricidades enquanto compositor, anacrónico no antes e depois da época – a da bossa nova – que melhor as reivindicou, conquanto fossem impossíveis de absorver em absoluto. Alf interessava-se por decompor a realidade quando o tempo era de síntese e em simplificá-la no instante em que se provava mais complexa. De maneira invisível, administrou as ilusões de uma geração inteira num determinado momento para de seguida lhe inventariar as desilusões. Disso fala este álbum de 1971, pela primeira vez reeditado em CD na sua versão original e com um EP de 1972 como complemento, em que todo o posicionamento político se vê monopolizado por aspetos emocionais, em que a esperança não passa de um compromisso intelectual e em que só o passado é autêntico e a solidão a única inevitabilidade. Quem nunca o ouviu, desconhece toda a ingratidão que pode haver no mundo e, de facto, não sabe duas ou três coisas sobre o amor.

Sem comentários:

Enviar um comentário