13 de dezembro de 2014

Thelonious Monk “‘Round Midnight: The Complete Blue Note Singles (1947-1952)” (Blue Note, 2014)



Perdeu-se a conta às vezes que foi editado e reeditado, revisto e aumentado, antologizado e remasterizado. Dir-se-ia até que dele já se reconhecem as partículas de pó. O que não impede que, sempre que dá à costa, deste espólio se fale como se de um estranho objeto se tratasse, um pedaço de madeira lançado ao mar, originário não se sabe de que época ou de que lugar, a que função se destinava ou que sortilégios representa, se pela mão humana trabalhado, se pelos elementos entalhado. Em “Blue Note Records: The Biography”, Richard Cook não faz por menos: “Com Monk, a Blue Note entrou na sua fase moderna”, escreve. Há 65 anos atrás, ouvi-lo era como admirar escultura tradicional africana numa galeria de arte contemporânea: qualquer reação parecia simultaneamente possível e intolerável, genuína e postiça, natural e artificial. Estão aqui os moldes para uma subsequente vida de invenção: por ordem de comercialização, as primeiras versões de ‘’Round Midnight’, ‘Well, You Needn’t’, ‘Off Minor’, ‘In Walked Bud’, ‘Epistrophy’, ‘Ruby, My Dear’, ‘Evidence’, ‘Straight, No Chaser’, ‘Misterioso’ ou ‘Monk’s Mood’, tocadas como se tivessem sido originalmente compostas num piano com teclas a menos, desnoveladas por um batalhão de instrumentistas em luta contra a intuição (ouçam-se os takes alternativos). Curiosamente, nem todos questionavam Monk por aquilo que ele dava ares de subtrair à música dos outros: numa resenha de 1963, por exemplo, Philip Larkin dizia que nesses temas os acordes eram como uma mala de viagem que mal se conseguia fechar de tão cheia. Mais que improvisação, escuta-se um método. E a sua aprendizagem nunca terá fim.

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