2 de maio de 2015

Julia Hülsmann Quartet w/Theo Bleckmann “A Clear Midnight: Kurt Weill and America” (ECM, 2015)



Olha-se para o alinhamento deste CD e nem é preciso ouvir uma nota para se perceber que algo está mal: detetam-se ‘Die Moritat von Mackie Messer’ (de “Die Dreigroschenoper”) e ‘Alabama Song’ (de “Mahagonny-Songspiel”), extraídas ao período em que Kurt Weill ainda não vestia o fato do exílio. Ou seja, se é verdade que toda a gente vem de algum lugar, também não é mentira nenhuma que um projeto que se dedica às ligações entre Weill e o seu destino final deveria ter em conta que, já a viver nos EUA, nada o enfurecia mais do que aí encontrar um compatriota que lhe dirigisse a palavra em alemão. Isto, vindo do ingénuo que não foi a correr para casa fazer as malas após um encontrão na rua com membros das Sturmabteilungen. Já alguém com um sentido mais sionista da história, como Meyer Weisgal, olhava do lado de lá do Atlântico para a ascensão dos nazis ao poder e corria para o telégrafo a enviar mensagens como: “Para Max Reinhardt, Europa. Se Hitler não te quer, eu fico contigo”. Também por seu intermédio rumaria Weill para a América. E, como se sabe, apesar de a parodiar, via Brecht, tinha sido com a América na cabeça que o compositor havia escrito a sua música mais gulosa. Conceda-se, uma América que tudo deve ao sonho. A de Walt Whitman, por exemplo, cujos poemas musicou numa fase de envolvimento com o esforço de guerra aliado. Dispensando as partituras de Weill, sem explicar porquê, também aqui Hülsmann visita Whitman. Não é muito importante, pois Bleckmann canta a alegria do antes, a mágoa do depois e as estrelas em que Weill definitivamente se perdeu quando há 65 anos se foi.

Sem comentários:

Enviar um comentário