23 de maio de 2015

Pierre Boulez "Le Domaine Musical" (Universal, 2015)



Num livro editado nos anos 50, o ator e encenador Jean-Louis Barrault, um empregador inicial seu, dizia algo com que Pierre Boulez se poderia identificar: “Na realidade, as coisas mais difíceis de fazer bem são as mais simples. Ler, por exemplo. Ser capaz de ler exatamente tudo tal como está escrito, sem omitir nada do que está escrito ou acrescentar-lhe seja o que for.” Mais do que isso não pedia o maestro, quando, na mesma altura, em Paris, sob o incentivo de Souvtchinsky, do casal Barrault-Madeleine Renaud e o patrocínio de Mme. Tézenas, e recrutando instrumentistas entre as várias orquestras espalhadas pela cidade, fundou a associação “Domaine musical” para permitir ao público interessado essa coisa extraordinária de ouvir música do seu tempo tal como nesse exato momento estivesse a ser escrita. Promoveu inúmeras estreias: de Stockhausen, Berio, Nono, Maderna, Pousseur, Ligeti, Henze ou, até, de Messiaen (no caso, os prodigiosos “Sept Haïkaï”, aqui incluídos). Mas fez, também, justiça aos compositores da Segunda Escola de Viena e ao Stravinsky coevo, historicamente ausentes dos programas de concerto franceses. Alguns recitais – em que pela assistência se apertavam Staël, Michaux, Char, Wou-Ki, Moravia, Jouve, Masson, Ernst, de Mandiargues ou Vieira da Silva – foram gravados e lançados pela Vega, depois reeditados pela Adès e, finalmente, em 2006, pela Accord. É esse material que este volume agora reúne, lembrando que o domínio da música se constrói com um pouco de independência e intimidade, com muito engenho, alguma ingenuidade e, até, com as canções que não se cantam.

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