28 de maio de 2016

“Jazz at the Philharmonic: The Ella Fitzgerald Set” (Verve, 2016)



Antes de mais, a publicidade enganosa: ainda não é desta que se descongestionam por completo as vias respiratórias destes registos, apesar dos pulmões de Ella surgirem, aqui, relativamente libertos de asma. Ou seja, os solos de saxofone de Charlie Parker, Lester Young e Flip Phillips permanecem algo abafados nas respetivas traqueias, o sopro de Roy Eldridge continua vagamente epiglótico e as batidas de Buddy Rich um tanto bronquíticas, para não falar, já, das muitas crepitações saídas do piano de Hank Jones e do contrabaixo de Ray Brown. Por isso, de nada serve o anúncio de novas remasterizações. Por outro lado, é inequívoco que, sim, tal como apregoa a compilação, esta é a primeira vez que efetivamente se reúnem num único CD, e no contexto dos concertos organizados sob a égide do “Jazz at the Philharmonic”, as gravações de Ella Fitzgerald que, entre 1983 e 1998, a Verve espostejou por “The Ella Fitzgerald Set” (modelo da presente edição) e “First Lady of Song” ou pelas monumentais “Bird: The Complete Charlie Parker on Verve” e “The Complete Jazz at the Philharmonic on Verve”. Seria mais interessante falar-se de inéditos, mas, afinal, este lançamento é feito ao abrigo de uma série de iniciativas editoriais que assinalam os 60 anos da chancela fundada por Norman Granz e a tendência será, precisamente, a de fazer chegar ao mercado títulos consagrados. As apresentações agora reunidas procedem de três datas: setembro de 1949 (o grosso dos temas, captado durante uma atuação no Carnegie Hall), setembro de 1953 (em que se destaca ‘Bill’, de P. G. Wodehouse e Jerome Kern, praticamente desconhecido na voz de Ella) e setembro de 1954. Ou seja, de uma altura anterior àquela em que, através de “Ella Fitzgerald Sings the Cole Porter Song Book”, a Verve conseguiu realmente tirar os pés do chão. Cá está aquela forma de cantar que enche de hélio cada sílaba e em que o scat se revela a brilhante estratégia de evasão de uma intérprete que se recusa a descer ao nível da sua audiência.

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