18 de março de 2017

“Hustle! Reggae Disco” (Soul Jazz, re. 2017)


Soube a pouco, a edição inicial de “Hustle!”, em 2002, quando se assinalavam os 40 anos da independência da Jamaica e, quiçá crucialmente, os dez da editora londrina. Não será, por isso, de estranhar que surja agora a “expandida versão” dessa peregrina antologia, ainda mais farta em ómega 3. Mas, no fundo, é pena que se tenha ficado por aí, adicionando cinco novos temas aos oito primitivos e prolongando aquela contínua aversão ao óbvio que é apanágio da Soul Jazz. Pois não é desta que se incluem aqui ‘Disco Reggae Beat’, de Sheila Hilton, qualquer uma das canções de “Reggae Disco Rockers”, de Derrick Harriott, ou, de modo axiomático, ‘The Hustle’, de Byron Lee. Todavia, ganha-se nova oportunidade para tornar claro o que nem todos compreenderam à primeira: que, mais importante do que comparar ‘Ring My Bell’, pelas Blood Sisters, à versão original, de Anita Ward – e de repetir o exercício ad nauseam para ‘Don’t Stop ‘Til You Get Enough’ (Derrick Laro e Trinity/Michael Jackson), ‘I’m Every Woman’ (Latisha/Chaka Khan), ‘Don’t Let It Go To Your Head’ (Black Harmony/Jean Carn), ‘Rapper’s Delight’ (Xanadu e Sweet Lady/Sugarhill Gang), ‘Upside Down’ (Carol Cool/Diana Ross), ‘In The Rain’ (Ernest Ranglin/Dramatics) ou ‘Ain’t No Stopping Us Now’ (Risco Connection/McFadden & Whitehead) –, será relembrar como, através da peculiar câmara de ecos do dub e da adoção em single de doze polegadas do que na Jamaica se produzia já com outro tipo de gestão do espaço em acetatos, se dilatou exponencialmente a expressividade dramática do disco sound no momento exato do seu declínio artístico e apogeu comercial (aproximadamente entre 1976 e 1979, da fase do Studio 54 e do “Saturday Night Fever”, digamos, à Disco Demolition Night). Dito de outra maneira, o que esta compilação traz à memória é, antes, o período do Paradise Garage, quando se tornaram a urdir em fibras naturais aquelas malhas de “liberdade e irmandade e compaixão”, como diziam Bill Brewster e Frank Broughton em “Last Night a DJ Saved My Life”, que a indústria realizava única e exclusivamente a partir de polímeros sintéticos.

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