9 de fevereiro de 2019

Eric Dolphy “Musical Prophet: The Expanded 1963 New York Studio Sessions” (Resonance, 2019)

A mais famosa frase de Eric Dolphy vinha em desafio das leis naturais, numa espécie de prótese criada para prolongar o final de “Last Date”, o primeiro de muitos lançamentos póstumos que vieram provar que no seu caso existia mesmo vida depois da morte: “Independentemente de rótulos, música é música”, ouve-se ele dizer a um radialista holandês, à cata de significados. “E se pensarmos bem no assunto, quando termina, desfaz-se em fumo – nunca mais a voltamos a apanhar.” Pois, Zev Feldman não poderia estar mais em desacordo. Para o produtor da Resonance, aliás, não há impossíveis nesse capítulo – e se um dia for necessário ir em busca da Voyager para resgatar o Golden Record, é bem provável que ele se candidate. Mas, por enquanto, não é preciso aguardar anos-luz nem vasculhar por entre a poeira das estrelas para que volte até nós aquilo que Carl Sagan caracterizaria como uma “mensagem numa garrafa lançada ao mar cósmico”. 

Agora, não propriamente numa garrafa mas, antes, numa não menos metafórica mala de cartão que Dolphy deixou em casa dos amigos Juanita e Hale Smith (o compositor de ‘Feathers’, gravado por Dolphy em “Out There”, em 1960) antes de partir nessa fatídica digressão europeia em que viria a falecer de complicações relacionadas com a diabetes, a 29 de junho de 1964, e da qual se conhecia já parte dos conteúdos desde que em 1987 a Blue Note lançou “Other Aspects”. O que permanecia inédito e o que em boa hora chegou às mãos de Feldman é o que se edita aqui: com uma irrelevante exceção, a porção mais significativa da integral de gravações que Dolphy liderou a 1 e 3 de julho de 1963 para a FM, de Alan Douglas, à qual foram extraídos os álbuns “Conversations” e “Iron Man” e que tem como cereja em cima do bolo dois takes até hoje inteiramente ignorados de ‘Muses for Richard Davis’ (duetos com o dedicatário do tema, em mono, como tem de ser). Depois, em ‘Love Me’, talvez se notabilize ainda outro par de takes a solo de Dolphy em que dava expressão ao que por alturas de “Far Cry!” confessava a Nat Hentoff: “É como se não conseguisse parar de encontrar um som que nem sabia existir – até agora!” É a mesmíssima razão pela qual se mandam sondas para os confins do Universo.

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