6 de julho de 2019

Jimmy Giuffre 3 “Graz Live 1961” (Hat Hut, 2019)

No outono de 1961, o trio de Jimmy Giuffre com Paul Bley e Steve Swallow chegava sem aviso prévio à Europa. Vinha de gravar “Thesis” e “Fusion”, um par de álbuns que se diriam produzidos por Mies van der Rohe – assentes em alicerces harmónicos praticamente invisíveis e coroados por linhas melódicas que pareciam desobstruir o próprio contexto composicional em que surgiam, desagregando e disseminando os seus materiais em partículas impalpáveis. Não admira que Giuffre viesse anunciar um corte com o passado na “Down Beat” de dezembro: “Apercebi-me que precisava de seguir outro rumo. Que tinha de me libertar e de ir para lá das vedações à procura de outras pastagens.” Compreende-se o intuito metafórico: Giuffre já não queria pertencer ao rebanho. Contudo, conforme lembra Bley na sua biografia, “Stopping Time”, havia gente que no intervalo dos concertos do trio, com ar de espanto e ainda mal refeita do choque, com certeza, andava pelos camarins a perguntar por Jim Hall, desesperadamente à cata de acordes. Gente que conhecia Giuffre dos discos de Woody Herman, Shorty Rogers, Shelly Manne ou Howard Rumsey e que tinha “Western Suite”, gravado com Bob Brookmeyer e Hall, por uma espécie de resumo e consubstanciação do cool

Agora, plateias incrédulas viam Giuffre enjeitar a tradição como se fosse um escravo a tentar libertar-se de correntes e era como se tivessem de aprender a ouvir de novo, de trocar a chama do passado pelo fogo-fátuo do futuro, quiçá. De facto, o trio teve um brilho transitório e só gozou de glória póstuma – aliás, o modo descoroçoante com que terminou (“Decidimos separar-nos na noite em que cada um de nós levou trinta e cinco cêntimos para casa [após uma atuação]”, veio a contar Swallow) é quase tão emblemático quanto a maneira de ser que demonstrou possuir em vida. Para a sua imortalidade contribuíram “Emphasis, Stuttgart 1961” e “Flight, Bremen 1961”, editados em inícios de 90, a que se soma este “Graz Live 1961”, captado uns dias antes e com cinco temas adicionais no respetivo alinhamento – testemunhos vitais de quem teve coragem de andar pelo escuro a tatear um mundo novo para o jazz, até cair.

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