Em “Sounds and Sweet Airs: The Forgotten Women of Classical Music”, em jeito de síntese, e após 325 páginas, Anna Beer regressa à casa de partida: “O que define um grande compositor?”, interroga-se retoricamente a autora. “Ser dotado de génio é essencial, claro. Depois, seja na corte ou no conservatório, um grande compositor requer algum tipo de cargo oficial, bem como a autoridade, a anuidade e as oportunidades que daí advêm. E, seja na pauta, no paço ou na ópera, precisa de ter acesso aos espaços em que a música circula e se afirma. E de amantes, musas e de uma esposa dedicada que lhe garantam estímulo e inspiração. Em resumo: um grande compositor tem de ser homem.” Ou seja, mais ou menos o estado de coisas que conduziu a sueca Helena Munktell (1852-1919) à seguinte conclusão: “Mais vale lutar por um lugar no estrangeiro do que aceitar ficar em casa por caridade. Isto já não é sítio para mim!” Em pleno fin de siècle, parecia uma verdadeira milenarista: mais que aguardar pelo inevitável, desejava precipitá-lo. O desabafo surge numa carta endereçada à cantora Esther Sidner (também ela sueca e ela própria discípula de Jules Massenet no Conservatório de Paris), em que Helena revelava o interesse de Vincent d’Indy nas suas composições. Vinha recomendada por Émile Durand e Benjamin Godard, figuras influentes no Conservatório, mas, mais do que galgar as defesas do patriarcado, teria de se afirmar no seio de uma entidade organizada sob a divisa da ars gallica, não obstante esta “Sonata para Violino e Piano” – uma revelação – provar que não ia à Societé Nationale de Musique para eriçar os bigodes de Saint-Saëns, Fauré e Dubois, ou as suíças de Franck, cujo modelo composicional decalcava. Seja como for, hoje, como numas canções em que cada melodia é como o canto do passarinho que ruma a novas latitudes, o pouco que se afasta do estilo francês é mais significativo do que o muito que dele se acerca. Um achado.
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