Como o original refrigério do mar experimentado a meio do tempo quente e seco ou a descoberta inaugural dos aromas amargo e doce das frutas de Verão, o íntimo afecto que com a música de Anouar Brahem desponta nem sempre resiste à repetição. Por isso dificilmente se voltará ao instante em que, no encontro com “Barzakh” e “Conte de l’Incroyable Amour”, ouvi-la era como nos olhos ter a dançar o revérbero do Mediterrâneo ou nos pés marcada a sua fímbria salgada. E também a sua discografia subsequente se afastou de tão vagas impressões. Até este momento. Porque no subúrbio dos poemas de Mahmoud Darwish – a que se dedica o álbum – ganha novamente razões para se deixar ir com a brisa para longe do destino dos homens. E, como uma balada de exílio em tudo fiel à do autor palestino há um ano falecido, trata nos seus espaços menos discursivos de olhar para lá da poeira dos sentidos e encontrar um mundo que, infelizmente, foi o paraíso. Seguem a par da obra poética estas canções para oud, clarinete, baixo e percussão como um sinuoso rio que às margens reclama terra e sangue para não se perder no oceano. Até tudo ficar branco.
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