Em noites brandas sonhava-se com o futuro. A música apaziguava espíritos, abrigava amantes, abraçava ideologias e aproximava-se de muitos sítios sem ao certo pertencer a lugar nenhum. Ao balcão discutia-se política e fechavam-se negócios, ministros recebiam no restaurante dignitários ocidentais e, pelos cantos da discoteca, conspiravam emissários de potências estrangeiras. Em palco suspendia-se o tempo: a banda da casa fixava-o no par de décadas em que a rádio nacional rodava discos do Sexteto Habanero, Orquesta Aragón ou Arsenio Rodríguez. Ocasionalmente, a pedido de representantes do governo de Léopold Senghor, e para que ninguém se pensasse num barco rumo a Cuba, o doce embalo tropical incluía melodias tradicionais wolof e a toada folclórica derivava para repertório mandinga ou baladas crioulas de Casamança, próximas das que cantava a Cobiana Djazz na Guiné-Bissau. Assim foi no Club Baobab, em Dakar, da inauguração em 1970 até ao fecho de portas em 1979. A sua orquestra, com instrumentistas de diferentes etnias e origens (Togo, Mali e Nigéria), encarnou na perfeição a tese cultural pretendida para o Senegal e – a par da Bembeya Jazz na Guiné ou a OK Jazz no Congo – simbolizou a recondução da diáspora a solo natal. Sabe-se que a sua melhor fase em disco é de final de setenta a inícios de oitenta, que caiu vítima da fórmula que criou, mas que anos depois renasceu. Esta retrospectiva ganha importância pelas limitações do mercado: os temas do primeiro CD são retirados de dois álbuns de 1972, em parte por reeditar (alguns foram incluídos pela Oriki em “A Night At Club Baobab”); dez canções do segundo, gravadas em 1978 em Paris, viram a luz do dia em 1992 numa edição já esgotada (“On Verra Ça”, World Circuit). Esta é mais uma fresta do que uma porta escancarada, mas o que se vê nunca se esquece.
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