Kinshasa chamava-se então Léopoldville. E, após anos de terror, a capital do Congo Belga adaptava-se a um tecido urbano que pressupunha progresso civilizacional mas que se reduzia à inclusão no seu traçado do ‘bairro indígena’. Aí, sintonizava-se uma estação de rádio e ouviam-se canções do Sexteto Habanero ou da Orquesta Aragón, enquanto dezenas de músicos mantinham o decoro colonial pelas charangas de restaurantes europeus. Imagine-se o bairro Tremé, em Nova Orleães, se na cidade se tivesse mantido a escravatura e o jugo espanhol e um dia, com o jazz, soasse de uma corneta a liberdade, e ter-se-á ideia do que significou em 1953 a entrada em estúdio de um jovem de 15 anos que viria a cantar como ninguém a independência do seu país. A ascensão de Franco a inultrapassável potência criativa do continente africano comprova-se pelas mais de 1000 canções gravadas pela sua banda até 1980, período do qual se extraiu o primeiro volume de “Francophonic”. Agora, nesta antologia de 150 orgíacos minutos, torna-se coerente uma fase mais complexa e de maior dispersão, assombrada pela corrupção resultante da proximidade de Mobutu, pelo exílio e pela doença, mas que os 40 músicos da TPOK Jazz reconduziam a um redentor manifesto contra o medo do mundo. Um dos acontecimentos do ano.
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