Nos poemas de Mahmoud Darwish tudo tem uma causa: as pedras polidas em forma de face, os cedros vertidos pelas colinas, as janelas suspensas sobre o Mediterrâneo, o apelo do marulho na noite, o aroma do pão rompendo na madrugada, os mártires e minaretes que sustêm o peso do céu, o tempo contado em nuvens que passam imitando no ar o voo das andorinhas e no chão ensombrando prisões, a mentira sincera do amor, a esperança de uma miragem e a marcha de um profeta… Até o acaso tem causa. Vem do clarão com que nasce a palavra mas precede-lhe porque se chama Palestina, a sua terra sem terra, geografia de exílio, saudade e memória, para a qual, nas fileiras da OLP, escreveu a Declaração de Independência. Falecido a 9 de Agosto de 2008, deixou mais próxima do pó uma certa ideia de pátria. Por isso, e para que a língua conduza à ressurreição, organizou o trio de alaúdes dos irmãos Samir, Wissam e Adnan Joubran este concerto em torno da voz daquele que há mais de uma década acompanhavam em leituras. Com Youssef Hbiesch na percussão, igualam modulações e métrica, espelham palavras com ostinatos e colam harpejos a sílabas numa virtuosa homofonia em câmara ardente vulnerável apenas à vontade do vento e à infelicidade do Homem.
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