Na sua insuperável busca por êxtase e redenção, um mundo da música desiludido com os seus mitos e ritos ruma ciclicamente a moradas do ‘exótico’, como Marrocos. E, salvo raríssimas excepções, de lá regressa com bateria cósmica recarregada e biografia insuflada pelo mais zelote moralismo colonial. Muitos, desde que há 50 anos Brion Gysin transformou os Master Musicians of Joujouka numa banda de restaurante e que, há 40, Brian Jones com eles ressacou pelo Atlas – seguindo ainda os exemplos de Ornette Coleman, Rolling Stones, Pharoah Sanders, Robert Plant ou Randy Weston –, aí renovaram energias criativas e missionários impulsos resgatando ao anonimato futuras etnias para auditórios europeus. Mas, ocasionalmente, como fizeram Paul Bowles, Bill Laswell ou a editora Al Sur (na série “Les Maîtres du Guembri”), produzem-se também gravações que revelam uma cultura local indiferente a estímulos exteriores, imune a mistificações espiritualistas em segunda-mão e impermeável aos vícios comportamentais de arquivistas. “Ouled Bambara” é dessa estirpe e, pela mão experiente de Maâlem Brahim Belkani, Hassan Zougari ou Abdelkbir Marchane, alimenta-se de uma identidade eternamente em crise, profundamente esotérica e invariavelmente impenetrável. Não fica muito mais ‘real’ do que isto.
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