Na contracapa do elegante “Bud Shank & His Brazilian Friends”, de 1965, escreveu John William Hardy que João Donato tocava como uma possível resposta sul-americana a Tommy Flanagan. Impressionaram-lhe características que, como em tantos músicos dessa geração, de Red Garland a Sonny Clark, combinavam concentração e descontracção, graciosidade e excentricidade. Décadas depois – embora se aproxime mais em estilo a Horace Silver – será a Thelonious Monk que substancialmente se assemelha. Porque em ambos se encontra a visão do silêncio enquanto imponderável poética, tendência para o esoterismo harmónico, enfático discurso rítmico ou fascínio pela repetição de ideias melódicas. Mas também porque, tendo definido prematuramente as suas virtudes e a elas se mantido fieis, foram tidos como loucos e posteriormente reavaliados como génios. Tudo isto é relevante num álbum (com Luiz Alves no contrabaixo e Robertinho Silva na bateria) em que, quanto muito, alarga a cintura a clássicos (alguns com quase 50 anos) como ‘A Rã’, ‘Bananeira’ ou ‘Lugar Comum’ e mais uma vez prova que continua demasiado novo para a bossa nova.
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