8 de maio de 2010

"Lagos Disco Inferno"


Arranca numa ‘Boogie Trip’ de licenciosos contornos – entre o Marvin Gaye de ‘Got To Give It Up’ e os Rose Royce de ‘Do Your Dance’ – e setenta minutos depois é como se o “Saturday Night Fever” nunca tivesse acontecido. Porque esta compilação de invulgar origem (Nigéria, via “Voodoo Funk”, o blogue de Frank Gossner) e inesperado sentido de oportunidade (indiferente à canonização de Fela Kuti) apaga da memória o enlatado disco-sound que, longe dali, dos centros das cidades transferiu a ilusão de risco para o coração dos subúrbios. E em doze lúbricos, onanistas e extáticos passos, de lambuzadas linhas de baixo e libertinas malhas rítmicas não menos dependentes do funk, devolve gordura a um estilo que aspirou a carne e o tutano da década que o viu nascer. Além de retratar o instante – o do boom petrolífero – em que bandas nigerianas competiam com Ohio Players, B.T. Express ou Blackbyrds pelas pistas dos ostentosos clubes de Lagos. Há aproximações a KC & The Sunshine Band ou Heatwave, de África pouco mais se pressente que o espírito de ‘Soul Makossa’, e, inevitavelmente, tudo haveria de se extinguir – é que, como tinham já avisado os Tower of Power, ‘(There’s) Only So Much Oil In The Ground’. Uma revelação.

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