Ainda se apalpa o terreno. Mas tudo indica que a reincidência do Congo no caminho do antologista servirá para contrariar os que procuram na exumação do ‘afro funk’ um sentido para a vida. Até porque começa o próprio mercado de reedições a torcer o nariz à fancaria do pensamento único. E tanto melhor se o seu reverso não se diluir num pluralismo de pacotilha entregue aos mais ingénuos impulsos humanistas. Nada é assim tão simples e, aliás, esta é uma história de sangue, vingança e inflexível rivalidade. Daí encerrar alguma ironia um subtítulo que evoca o tema de Franklin Boukaka gravado em finais de 60 com a Cercul Jazz: ao sonho de um Congo unido, e após se envolver num abortado Golpe de Estado em Congo-Brazzaville, respondeu-lhe em 72 um pelotão de fuzilamento. Que não se presuma vontade política nesta metafórica ponte – a comunicação que pressupõe tem tudo a ver com tráfico.E nem poderia ser de outra maneira. Fundamentalmente em Congo-Kinshasa (ou Zaire, a partir de 71), este foi um momento – aqui fixado entre 68 e 76 – de agitação criativa sem precedentes. Comprovam-no materiais efervescentes produzidos pelo lustroso Trio Madjesi, pela infalível Orchestre Lipua Lipua de Nyboma Mwan Dido, pelos desembaraçados Grands Maquisards de Dalienst Ntesa, pelas ondulantes vozes (Pépé Kallé, Dilu Dilumona e Papy Tex) de Empire Bakuba ou do trio Cepakos, pela recreativa Zaïko Langa Langa ou, inevitavelmente, pelas transparentes malhas entrançadas pela O.K. Jazz de Franco, Orchestre Vévé de Verckys ou por Docteur Nico (com a sua guitarra flutuando em uníssono com as de Dechaud e De La France na African Fiesta Sukisa). Não faz o retrato completo (aguarda-se a entrada na série de Thu Zahina, Nickelos, Manta Lokoka, Shama Shama, Stukas, etc) mas num Verão quente servirá para reduzir o suor a vapor.
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