Em “The Hunter”, de 1982, uns Blondie já fora do prazo arriscaram um derradeiro arremesso conceptual com ‘Island of Lost Souls’, mandrião calipso com credibilidade insular no trompete do porto-riquenho Luis ‘Perico’ Ortiz e inclinação ‘primitivista’ em cinquenta segundos de uivos e cuícas a imitar araras e saguis. A canção inspirou-se na adaptação para cinema de “The Island of Dr. Moreau”, de H.G. Wells, produzida em 1933 pela Paramount e na qual, reagindo a um distante e nocturno clamor ritualista que se presumia de origem nativa, declarou Charles Laughton no papel do infame doutor: “they are restless tonight.”. Do mesmo filme saiu outra frase para a posteridade quando a personagem interpretada por Bela Lugosi levantou a crucial questão futuramente repetida pelos Devo: “Are we not men?”. De facto, por aí se escrutinar a condição humana em circunstâncias laboratoriais, muitas vezes se voltou à metáfora da ilha para atingir fins moralistas. Da “L’Île Mystérieuse”, de Jules Verne, ao “Lost”, de J.J. Abrams e Damon Lindelof, não faltam exemplos do fascínio exercido pelo cenário nas mentes ocidentais. Parece a cultura popular saber o que no contexto da bio-geografia ensaiou David Quammen em “The Song of the Dodo”: que “as ilhas são santuários e terrenos férteis para o único e o anómalo”. “Tumbélé!” vem reafirmá-lo de forma exuberante. E porque chega de um mundo perdido – umas Martinica e Guadalupe que nos anos 80 abraçariam o sucesso comercial do zouk esquecendo a patente aqui evidenciada – mais dramático se prova o reconhecimento de uma infecciosa e vagamente assimétrica evocação dos estilos de Cuba, Congo ou Haiti, aplicada aos locais beguine ou gwo-ka. São vinte temas de frenético exotismo, desmembrando ainda o jazz crioulo de Sidney Bechet, bombas, plenas e restante diáspora caribenha, e tudo reagrupando devidamente fora do sítio até se apagar a consciência regional e, como não poderia deixar de ser, restar apenas a fantasia.
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