É sabido que o mercado da música africana é vulnerável a factores externos. E tornou-se evidente que dependia do gosto de não-africanos quando em 1987 permitiu a diluição do ‘afro pop’ na salada de frutas da ‘world music’ e se rendeu a fantasias criacionistas. Foi uma maneira de fazer pela vida que, de Cesária a Ali Farka, deu emprego a muita gente. Mas, de tão simplista e distante da realidade, alienava aqueles que recordavam dançar-se no Studio 54 o ‘Soul Makossa’ ou experimentar-se psicotrópicos ao som dos Osibisa e impedia a adesão do público indiferente ao mito da autenticidade. A música aqui reunida representa precisamente um instante de vertiginosa aceleração que torna redundante a presunção de imutáveis identidades culturais. Porque na sua prática implodem uns e outros, cópias e originais, até sobrar apenas o apetite pela alteridade. Ou seja, a aplicação do “Manifesto Antropofágico” de Oswald de Andrade regurgitado do outro lado do Atlântico pelos tropicalistas brasileiros, partindo do highlife e do afrobeat até engolir o cartaz do “Soul to Soul” (o concerto em Accra que em 1971 juntou Wilson Pickett, Ike & Tina Turner, Roberta Flack e Santana). Por isso, antes de Brian Eno (que aí produziu os Edikanfo), Mick Fleetwood (que aí gravou “The Visitor”), Paul Simon e Peter Gabriel (que empregaram ganeses nas suas bandas), eis Apagya Show Band, Cutlass Dance Band, Uhuru Dance Band, Hedzoleh Soundz ou African Brothers a contribuir para o enterro da ‘world music’ e a restaurar, como aliás deve de ser, a impureza africana bem no centro das nossas vidas.
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