26 de junho de 2010

Paban Das Baul "Music of the Honey Gatherers"


Em 1997, quando a Real World editou “Inner Knowledge”, o primeiro álbum a solo de Paban Das Baul, encontravam-se no mercado um par de livros sobre os Baul de Bengala e – há muito esgotados os volumes na Chant du Monde e na Folkways consagrados à seita devocional – mera meia dúzia de edições em CD com a sua música. Era pouco, mas, em meados dos anos 80, com menos se gerou no ocidente uma eufórica recepção a um parente no misticismo sufi, Nusrat Fateh Ali Khan. Entretanto, e perversamente, após a inclusão pela Unesco das canções dos Baul na lista de “Obras-Primas do Património Oral e Imaterial da Humanidade” – em que figuram o tango argentino, o samba de roda baiano ou, entre cerca de 160 elementos, as polifonias dos pigmeus da República Centro Africana – pouca coisa mudou. Desapareceram mais alguns discos e multiplicaram-se no YouTube os vídeos em que neófitos do ‘hippie trail’ em nobilíssimos actos de expiação perseguem pobres e desgrenhados trovadores pelas hortas e atalhos do delta do Ganges, trocando malgas de arroz pelo acesso à fonte de todos os avatares e ensinamentos sobre budismo tântrico, esotéricas práticas sexuais ou lições de ioga bhakti. Por essas e por outras se entregou Paban desde a sua estreia a degenerativas fusões de estirpe ‘asian chill’. Mas agora reencontra o caminho quem canta sobre o tempo – na realidade uma vida inteira – que leva um homem a conhecer-se. Produzindo, com estas brandas e ternas meditações sobre transitoriedade e eternidade, o mais intenso e distinto retrato daqueles que fazem do corpo o seu templo, retirando aos Baul a dimensão de firma de crédito de rectidão moral que, como uma piada de mau gosto, se lhes colava à pele desde que Bob Dylan posou ao lado dos irmãos Purna Das e Luxman Das na capa de “John Wesley Harding”. É que, escorrendo como água, surgem pela primeira vez estas melodias autónomas dos que, por vaidade, evocam a verdade num mundo que só a sabe trair.

Sem comentários:

Enviar um comentário