Nasce, hesitante, mas logo diz ao que vem. E brilha com a intensidade de um dia que, aos primeiros raios de sol, desponta para aclarar o destino dos homens. Porque esta variante queniana da rumba congolesa não precisa de mais de cinco segundos para apontar um caminho e, sem arrependimentos, efectivamente o seguir. Quanto muito, muda de velocidade, acelerando nas curvas e abrandando nas rectas, evocando o seu princípio e adiando o seu fim para que nunca chegue o amanhã. Mas raramente se desnorteia. Pelo contrário, espanta que, em temas que vão dos oito aos dez minutos, fixe a atenção de quem a ouve em cada nota (naquelas guitarras eléctricas que se imaginam dedilhadas com a articulação táctil do braille), melodia (em que canta a diáspora da África Ocidental filtrada pela sensibilidade Oriental) ou ritmo (exercícios sobre o soukous em que predomina a cavacha, conduzida de forma marcial nos pratos de choque da bateria e sublinhada pelo pulsar de baixos andantes). Ainda por cima quando é toda ela mais leve e gasosa que a matricial. Carácter, aliás, conquistado numa Nairobi dominada por músicos zairenses e tanzanianos (o caso de Issa Juma) que a souberam desviar para longe da fonte. E foi o vocalista dissidente dos Kumba Kumba e Simba Wanyika o responsável por – aproximando-a do benga e acercando-a do ‘carrossel’ kamba – lhe introduzir a dinâmica e espacialidade aqui tão bem retratadas. Até por isso será esta edição importante (além de incluir inéditos, como ‘Mony’, que surge numa mistura diferente da de “Sigalame 2”, a compilação que em 1990 apresentou Juma à Europa). Mas terá alcance verdadeiramente considerável se, consequentemente, motivar a reintrodução no mercado daqueles que marcaram então a música no Quénia (Kakai Kilonzo, Victoria Jazz Band, International de Nelly, Super Volcano, Super Mazembe, Shika Shika, DO7, Migori Super Stars ou Gem Lucky Band) e que estão hoje à beira do esquecimento.
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