A relação da Orchestra Baobab com o ‘ocidente’ tem muito de conto de fadas: obscuras gravações trazidas a lume por um radialista britânico, editoras a vasculhar nos baús da diáspora, uma reunião após vinte anos de inactividade, reedições, digressões, regresso a estúdio, até que, por fim, se sobrepôs o mito à realidade tornando-se a orquestra senegalesa no epítome de um abrangente processo que se poderia apelidar de re-africanização da música afro-cubana. O que, tendo em conta a desarmante beleza da sua produção, será inegável. Agora, parecerá desproporcional à fama gozada pela banda que a precedeu – a Star Band – e por dois outros ramos desse mesmo tronco: a Number One, que lhe disputava os fãs, e a Étoile de Dakar, que a arruinou. Ouvir em sequência estas compilações é sentir-lhe o céu a cair em cima. Se a Number One, liderada por Pape Seck, se revelava já agressiva e feérica – o seu guitarrista, Yakhya Fall, ao contrário do mais delicado Barthélémy Attisso na Baobab, usava pedais de efeitos trémulo e fuzz –, a Étoile de Dakar representa uma violenta actualização da música urbana de Dakar, toda ela provocante, enérgica e com um ímpeto juvenil que implicava cortar com o passado. “La Belle Époque”, em 28 temas, traz na íntegra o primeiro LP da Number One (“Maam Bamba”), exclui um par de canções do seminal “Jangaake” e dos posteriores “78 Vol. 1”, “78 Vol. 2” e “Yoro-Kery Goro”, colhendo só as pérolas de “Jiko-Nafissatu Njaay”. O volume consagrado à Étoile, de Youssou N’Dour e Badou N’Diaye, reúne pela primeira vez as cinco cassetes editadas pela Touba durante os dois relampejantes anos de actividade do grupo. Um sobressalto de modernidade.
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