15 de janeiro de 2011

Tabu Ley Rochereau “The Voice of Lightness Vol. 2: Congo Classics 1977-1993”


Há muitas formas de o recordar e dificilmente se encontra outro que, como ele, tenha deixado tão indelével marca no património criativo de um continente inteiro. Porque, apesar de altos e baixos na sua relação com Mobutu, da acumulação de rivalidades pessoais e das indiscrições que acompanham os verdadeiramente poderosos, nunca deixou Tabu Ley Rochereau de traduzir o sinal dos tempos mantendo a ilusão de o determinar. E do galante vocalista dos Rock’a Mambo na época colonial ao orgulhoso narrador da independência com a African Jazz, do emancipado cronista de uma nova Kinshasa ao lado de Dr. Nico na African Fiesta ao exuberante intérprete que com a sua Afrisa tomou de assalto o palco do “Rumble in the Jungle” (o combate de 74 entre Foreman e Ali na capital zairense) ou do triunfante delegado na extravagância pretrolífera-pan-africana que foi o FESTAC ’77 (o Festival Mundial de Arte e Cultura Negras que em Lagos, na Nigéria, somou os nomes de Stevie Wonder ou Gilberto Gil a um cartaz de milhares de participantes) ao impulsionador da carreira de M’bilia Bel, lêem-se os seus traços biográficos à luz de uma permanente relevância cultural. Por isso – e também por níveis hemorrágicos de produção com anos sucessivos a lançar álbuns aos pares – se torna impossível ajuizar em definitivo a pertinência do antologista que lhe deite mão. Aliás, quando há três anos editou um primeiro volume lamentava já Ken Braun, responsável pelo projecto, as 600 canções que ficaram de fora. Não admira então que se mantenha mais fiel à história do que à estética, privilegiando momentos – a colaboração com Franco e as gravações na Costa do Marfim ou em Paris – que no seu pior são um som demasiado grande para um homem só, o som do dinheiro e da megalomania, e no seu melhor representam a máxima exactidão neste domínio em que a ciência não entra.

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